Se você é profissional do setor e costuma acessar Fóruns de climatização pela internet, provavelmente já leu algo escrito pelo Jairo Bertoni, que é técnico de instalação e um estudioso da área, atuando em refrigeração e condicionamento de ar desde 1982 na empresa IRMÃOS ARAÚJO, fundada em 1958 por seu pai e tios, em Ituiutaba, Minas Gerais.

Bertoni é um dos profissionais mais atuantes no Fórum do portal WebArCondicionado e atualmente tem se especializado cada vez mais em energias renováveis, participando de eventos relacionados ao tema e buscando informação sobre novas tendências. Confira nossa conversa sobre essas novidades:

Portal WebArCondicionado: O Brasil é um dos países com o índice de insolação mais elevado, significando um grande potencial solar, por que então a climatização sustentável não deslancha no país?

Jairo Bertoni: A verdade é que o Brasil é um dos poucos países no mundo, que recebe uma insolação (número de horas de luz solar) superior a 3.000 horas por ano. Mas por aqui, existe uma lógica inversa no aproveitamento deste potencial solar e um dos principais motivos que percebo para explicar esta nossa apatia tecnológica com relação a esta opção invejável de climatização sustentável é o excesso de outras possibilidades. Em um território de proporções continentais, dispomos de outras fontes de energia limpa, em quantidades significativas, como a energia hidráulica e a biomassa. Tamanha disponibilidade impede que a demanda pressione investimentos em novas tecnologias, como da energia solar, por exemplo, acabando por perpetuar um perfil de matriz energética sem grandes avanços nas novas áreas, mesmo estando provado que o aproveitamento seria inegavelmente maior e com menos impacto ambiental.

Obviamente que isso vem aliado a uma omissão do governo, sem políticas públicas que pudessem incentivar e criar novos programas para a área, tanto pelo lado da criação de linhas de crédito para financiamentos com juros baixos, quanto redução de impostos em equipamentos ou ainda a inserção do tema ENERGIA SOLAR dentro das instituições de ensino do país. Não fomos educados e não estamos educando as novas gerações sobre o assunto.

Outro dado é que a energia solar, embora possa desempenhar um papel fundamental no desenvolvimento sustentável do país, ainda é relativamente cara. Mas fica a pergunta: porque não baratear, difundir e incentivar o uso de painéis solares em telhados para uso doméstico como forma de reduzir a demanda? Isso sim, seria uma solução relativamente simples e que poderia aliviar o sistema, sobrando mais energia para uso industrial.

Portal WebArCondicionado: Quais as alternativas de energia sustentável mais viáveis atualmente?
Jairo Bertoni: Fotovoltaica, biomassa, eólica e cogeração.

Portal WebArCondicionado: Um ar condicionado, mesmo usando a energia fotovoltaica, deve estar conectado a energia elétrica (vendida pela empresa de energia), para situações onde não há uma reserva de energia solar captada (dias nublados, por exemplo) para que o aparelho possa ser utilizado de forma estável? Ou como funciona essa parte? A chamada energia híbrida, não é?

Jairo Bertoni: No sistema fotovoltaico, o uso de baterias está ficando obsoleto, apesar de ser muito usado ainda. O que se usa hoje é o inversor de energia fotovoltaica e padrões de energia bidirecionais.

Portal WebArCondicionado: A utilização da energia fotovoltaica realmente pode vir a suprir toda a demanda ou seria interessante passar inicialmente por uma espécie de adaptação com a energia híbrida (solar + rede elétrica comercializada)?

Jairo Bertoni: Hoje o mercado aponta para isso – a transição. Mas existem países (como a Alemanha) que 10% da energia produzida é eólica, fotovoltaica, biomassa ou que se utiliza de instalação de geradores de energia para suporte, ou seja, em torno de 9 milhões de pessoas e com uma projeção que até 2030, 20% da população estarão utilizando esse tipo de energia, isso com financiamento de bancos, etc…

Portal WebArCondicionado: Pensando em fugir da energia da rede elétrica convencional, um sistema híbrido com energia solar + energia eólica, por exemplo, seria uma boa opção?

Jairo Bertoni: Depende de vários fatores e o que pode pesar é a relação CUSTO X BENEFÍCIO. As duas energias citadas têm um custo relativamente alto e é bom lembrar que ainda não existem estudos muito precisos sobre o grau de poluição na produção dos componentes deste tipo de energia. Mas não se pode avaliar este cenário somente do ponto de vista financeiro, porque a longo prazo, o que realmente me move, é o que estamos fazendo e deixando para as futuras gerações.

Portal WebArCondicionado: Gases ecológicos como o R32, por exemplo, que até agora é o que menos agride o meio ambiente, estão surgindo com força no exterior. Você acredita que eles poderão ser implantados logo nos aparelhos fabricados no Brasil?

Jairo Bertoni: O ideal seria que sim, mas isso envolve muita coisa e existem os processos burocráticos como homologação, instituição de leis regulamentadoras e normativas, para finalmente haver adequação das linhas de produção e operação.

Portal WebArCondicionado: Acordos como os Protocolos de Kyoto e de Montreal, além das decisões firmadas recentemente na COP 21, em Paris, estão buscando promover a sustentabilidade em meio às agressões ao meio ambiente. Como você avalia a eficiência desses tratados? 

Jairo Bertoni: Avalio com desconfiança, porque os maiores consumidores de energias não renováveis e poluidores (EUA e CHINA) não participaram estrategicamente da maioria dos acordos e compromissos firmados sobre o assunto, além de manterem sigilo sobre uso e todas as formas de emissões (não só do CFC). O COP 21 não deixa de ser um avanço, mas como tudo, os resultados serão a longo prazo.

Redação do Portal WebArCondicionado
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