*Por Ivan Romão em coautoria com Sérgio Eugênio
A pandemia de Covid-19 mudou radicalmente nossa maneira de estar nos lugares. Para muita gente, o trabalho passou a ser remoto, operado na frente do computador ou ao telefone. Entretanto, uma série de atividades precisa do componente humano, o que impediu muitas pessoas de fazerem uma quarentena completa: o operário, a faxineira, o segurança, o cozinheiro, entre tantos outros profissionais.
Esses heróis do mundo real, que mantêm funcionando as complexas engrenagens da vida material, em sua maioria utilizam o transporte público para se locomover. Sabemos que os ambientes fechados são vilões em se tratando da transmissão de vírus e bactérias. Ao mesmo tempo, ônibus e metrôs não podem parar de circular. O que fazer então para tornar mais segura, do ponto de vista sanitário, a experiência de quem utiliza o transporte público?
Devemos pontuar que, antes mesmo de o Coronavírus se espalhar pelo mundo, já haviam cuidados direcionados à qualidade do ar nas unidades de transporte. Na cidade de São Paulo, por exemplo, onde existem cerca de 15 mil ônibus, 8 mil deles climatizados, a empresa responsável pela fiscalização do ar, a SPTrans, trabalhava com uma média de troca semanal do filtro de ar.
Com a pandemia, isso passou a ser feito mais intensamente. A empresa, inclusive, chegou a consultar a ABRAVA (Associação Brasileira de Refrigeração, Ar Condicionado, Ventilação e Aquecimento) para buscar conhecimentos mais específicos e sólidos acerca da proteção sanitária da frota.
Um grande desafio para gestores e empresas, neste contexto de pandemia, é a quantidade de pessoas que precisa estar dentro do transporte público todos os dias. Sabemos que a regra geral é de distanciamento social, mas quanto mais cheio um ônibus, mais isso se torna impossível.
Uma pessoa adulta precisa de 6 litros de ar por minuto para viver, ou seja, quase 400 litros de ar por hora. Como o ar precisa ser constantemente renovado, os ônibus têm um mecanismo de entrada de 360 litros de ar para cada pessoa, por hora, para que não se “repita”.
Isso dificulta a contaminação por vírus e bactérias se a troca de filtros e a limpeza dos dutos estiver em dia. Precisamos, ainda, ficar atentos aos veículos antigos, com mais de 10 anos, que não têm essa capacidade de renovação de ar.
De uma maneira ou de outra, é importante reduzir, por precaução, a quantidade de pessoas dentro dos transportes públicos. As empresas podem utilizar filtros antivirais nos veículos e a máquina de dióxido de cloro, considerado excelente sanitizante, e devem se preocupar com as especificidades técnicas de suas frotas, para entender como as trocas funcionam em cada modelo de veículo.
Se possível, devem ser abertas as portas a cada 10 minutos, por pelo menos um minuto, para trocar o ar. Mesmo com todos esses cuidados, transmissões virais podem acontecer, já que a proteção também é individual (uso de máscaras, álcool em gel). Já às autoridades sanitárias cabe medir sempre a qualidade do ar no transporte público.
Isso pode ser feito através de análises laboratoriais especializadas. As medições de bactérias e vírus devem ser feitas em superfícies, cuja unidade é o UFC/cm², e no ar, cuja unidade de medida é o UFC/m³ (metro cúbico).
Todos devemos fazer nossa parte para tornar a experiência do uso do transporte público melhor e mais segura possível: as pessoas com os cuidados individuais, as empresas com o controle sanitário da frota e o poder público com a fiscalização. Num contexto em que a pandemia persiste, essa nova realidade vai se tornando algo com que temos de nos habituar.
*O Artigo sobre Higienização dos sistemas de climatização nos transportes públicos é assinado por Ivan Romão, gerente da Febrava; e Sérgio Eugênio, presidente do DN de ar-condicionado automotivo da ABRAVA.
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